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Capítulo 1 - O caçador

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Mensagem por Gabriel D. Sperb Dom Set 21, 2014 5:22 pm

O Mercenário


Beco das Carcaças. Esse era o nome de um gigantesco aglomerado de becos e ruelas que se entrelaçavam por baixo da cidade de Atron Vl. Localizada nos níveis mais baixos da cidade, um lugar onde não se via os raios de sol, nem ao menos uma suave brisa entre suas ruas, pois essa área se encontrava por debaixo de centenas de arranha-céus das camadas superiores de Atron. Seus becos e ruas eram imundos, onde o forte odor de esgoto se misturava com o cheiro forte de óleo e fluidos de bateria. Era naquele local que um jovem caçador de recompensa caminhava, entre os mercadores de equipamentos tecnológicos, em meio ao centro da grande feira de equipamentos eletrônicos que era o Beco das Carcaças.

Assim como as outras dezenas de megalópoles do planeta tecnológico de Cyberdon, entre o céu Atron Xl estavam os picos de seus arranha-céus, cuja altura era tão grande que se misturavam entre as nuvens da cidade. A cada nível da cidade, avenidas gigantescas de veículos terrestres, sobrevoados por avenidas aéreas que permitiam o transito de veículos planadores,  separavam as camadas da cidade em diversas escalas. Como qualquer outra, Atron Xl era uma grande cidade tecnológica, governada por uma pirâmide hierárquica que ia do topo ao subsolo. Mas diferente das outras, Atron era conhecida como a capital do comércio robótico do planeta. Lá se encontravam os melhores artigos tecnológicos, dos mais procurados aos mais raros. Entre os comércios mais procurados estavam o mercado de naves, droids, armas, veículos e equipamentos de mineração, assim como diversos outros tipos de mercado. Mas havia um cuja importância movia a maior parte do mercado do planeta, tanto legal como ilegal. O mercado de peças biomecânicas.

Com o desenvolvimento da engenharia médica e robótica, já em décadas anteriores, houve uma fusão entre essas duas ciências, de tal maneira que hoje em dia é difícil separar os dois ramos. Os artigos biomecânicos não eram apenas peças de reposição para membros feridos e amputados, era uma forma de melhorar a capacidade humana, criando uma mesclada de corpos humanos modificados tecnologicamente com parte robóticas, aumentando em grande escala a capacidade física da sociedade com esse tipo de tecnologia. As peças não apenas melhoravam a força, resistência e velocidade dos membros modificados. Esse tipo de melhoria já fora ultrapassada em importância fazia décadas. Nos dias atuais as habilidades das peças biomecânicas eram muito mais abrangentes. Além de sua infraestrutura, que variavam de ligas metálicas mais resistentes e de melhor qualidade até peças sucateadas e ultrapassada em termos de tecnologia, as peças eram programadas por softwares de programação automática. Um braço mecânico cuja programação contenha softwares de criação artística, possibilitava ao usuário recriar qualquer pintura, desenho ou arte gráfica dos melhores artistas da historia. Ele nem ao menos necessitava olhar para o que estaria fazendo. Seu braço automaticamente poderia recriar qualquer designer programado, copiando e até mesmo elaborando plantas e desenhos, tanto artísticos como desenhos de engenharia e arquitetura.  Da mesma forma, uma perna com programação de defesa pessoal teria a habilidade de golpear o corpo de algum inimigo nos pontos mais vulneráveis, com extrema precisão e força, fazendo com que esse membro tornasse seu usuário um excelente combatente corpo-a-corpo.

Tendo em vista todas essas características, não era difícil imaginar o que fazia um jovem caçador de recompensas naquele lugar. A cidade mais conhecida como a capital do mercado robótico do planeta, a grande procura e importância de peças biomecânicas no mercado mundial e o lugar mais sujo e obscuro daquela grande megalópole. O caçador estava apenas atrás de duas coisas, seu pagamento e seu próximo alvo. Ele caminhava por entre as ruas do Beco da Carcaça, com seu rosto escondido pelas sombras do capuz de um velho casaco, umedecido pelas gotas que caíam dos céus daquela parte da cidade. Mas aquilo não eram gotas de chuva. O Beco da Carcaça se localizava abaixo de todas as outras camadas da cidade de Aton Xl, exceto a do subterrâneo. Se dividíssemos Arton em andares, aquele lugar sujo e fedorento seria o primeiro andar de um prédio com a altura de cerca de 6 andares. A cada camada acima se encontravam menos moradores, mas a cada camada superior a tecnologia era mais limpa, mais desenvolvida e, claro, a economia era a dominante. Por esses motivos podemos imaginar o que escorria dos céus do Beco das Carcaças. Não era chuva, pois aquele lugar era coberto por avenidas e edifícios. Eram apenas os canos de refrigeração das usinas de energia e demais fabricas das camadas mais superiores da cidade, assim como escapamentos do esgoto das camadas superiores, que cobriam os céus daquela região antes de derramar seus dejetos no deserto que ocupava os arredores da cidade. Por dia aquela região sofria de uma chuva de fluidos de refrigeração, em média de quatro horas, derramando um líquido fétido e viscoso, dividido entre milhões de gotas das goteiras dos encanamentos da cidade superior ao Beco das Carcaças.

Zack Drick, o mercenário caçador de recompensas, se esgueirava e se protegia da chuva do esgoto de Arton com seu casaco velho, sujo e esfarrapado, andando com cuidado e procurando não chamar atenção por entre as ruelas do local, até chegar ao beco 707. Não haviam muitas pessoas naquele beco. Na verdade pode-se dizer que é um dos becos mais calmos do lugar, pois em diversas outras partes daquela região o simples transito de pedestres era de difícil locomoção. Drick caminhou pelo beco até encontrar uma porta de metal, pichada e riscada de cima a baixo por inúmeros tipos de escrita e desenhos obscenos, cobrindo qualquer tipo de identificação que pudesse avisar o que havia no interior daquele local. Ao empurrar a porta, com dificuldade, além de arrastar parte inferior da porta pelo piso de pedra do lugar, um pequeno sino preso na parte interna da porta soou o anúncio de que alguém estava entrando no recinto.

Entrando no local, Drick retirou seu capuz, deixando a vista seus cabelos sujos, picotados e bagunçados. Seu rosto também mostrava manchas de graxa, alguns arranhões e escoriações que desciam até o pescoço. Fora sua higiene, o que mais chamava atenção na fisionomia do rapaz era uma cicatriz que ia de um lado ao outro de seu roto, abaixo de seus olhos, passando por cima de seu nariz, o que parecia ter sido criado por um profundo corte em seu rosto. Sua barba mal feita continha falhas, de certo pelas escoriações e ferimentos no rosto que houvera sofrido em outros momentos, em seus serviços anteriores como caçador de recompensa.  Com 1,79 metros de altura, olhos negros como duas gotas de óleo de bateria, Drick caminhou com a cabeça baixa, protegendo-se dos diversos materiais mecânicos que estavam pendurados pelo teto do local, dificultando a visualização do resto do ambiente. Cerca de 4 metros da porta de entrada, por detrás de todas aquelas bugigangas penduradas pelo lugar, Zack enfim encontrou um balcão de entendimento, protegido por uma grade de ferro que estava coberta por fios elétricos em todas as linhas metálicas.

Antes que o rapaz pudesse falar qualquer coisa, uma figura curvada, de longos cabelos acinzentados e completamente emaranhados saiu por detrás de um amontoado de equipamentos tecnológicos sucateados. Com uma altura reduzida e um olho mecânico que se projetava para fora da orbita ocular, cerca de cinco centímetros de comprimento, um homem que aparentava ter entre 50 e 60 anos sorriu para o caçador, o qual tinha apenas 24 anos, mas aparentava ao mínimo 30, pelos traços imundos e diversas cicatrizes em seu corpo. Ele desliga a cerca elétrica que cobria a grade do balcão, puxa uma manivela que faz a grade subir rapidamente e sobe em um velho caixote, ficando no mesmo nível de altura de Drick, porém do outro lado do balcão de atendimento. Ele sorria, mostrando dentes sujos, amarelados, com a falta de um ou outro dente entre sua arcada dentária.

- E então... onde está a minha “encomenda”? – Dizia esfregando suas mãos, projetando seu olho biônico para fora e para dentro da orbita ocular, enquanto emitia um som de sorriso, como uma criança em véspera de natal.

Drick retira de dentro do longo casaco velho e esfarrapado uma perna biomecânica, cuja maior parte estava suja que fuligem, preta e queimada, como se tivesse sido jogada dentro de uma fogueira. Ele joga a peça com violência sobre o balcão do lugar, fazendo com que diversas partes da liga metálica, fios e outras peças mecânicas soltassem da perna e caíssem sobre o balcão, deslizando até cair ao chão do lugar. O velho que antes demonstrava expressões de ansiedade e felicidade, agora mostrava uma cara de espanto e surpresa.

- Mas o que você fez com ela, seu filho da puta retardado?! Era só pra trazer a perna do cara, não era para explodir os dois ao mesmo tempo! – Dizia o velho com as mãos na cabeça, deixando sua boca entre aberta pelo espanto de ver aquela peça mecânica de alta tecnologia em condições tão precárias.

Drick tirou as mãos de dentro do casaco, pegou com força a gola da camiseta do velho mercante por detrás do balcão e o puxou para perto de seu rosto, o colocando quase que com o peito colado a superfície do velho balcão.

- Tu tem ideia do que eu passei pra pegar essa merda de perna biomecânica, seu imbecil? Tu nem ao menos me avisou que esse desgraçado tinha programação de auto defesa avançada. Ele quebrou minha clavícula como se fosse papel! Dá o meu dinheiro agora e um próximo serviço de uma vez. Eu não aguento ficar nesse local por mais um minuto. – Dizia Zack próximo do rosto do velho mercador, que avaliava a fisionomia do caçador com seu olho biônico, analisando suas expressões faciais de todos os ângulos.

- Calma, rapaz! Me solta, seu imbecil! – O velho desfere um golpe no braço de Zack, soltando a mão do garoto da gola de sua camiseta. – Eu não tenho como saber todas as informações dos proprietários de cada peça que eu lhe mando caçar. Eu já pago a maior parte do dinheiro que ganho para comprar essas informações das centrais dos níveis superiores de Atron. Acha que é barato saber quem tem uma perna ZCC 23 por aí? Pior ainda é saber que tipo de softwares eles colocaram nessa belezinha. Mas agora ela está toda ferrada. Mas pera... Acho que posso desmontar a parte do seu calcanhar e remontar com outras partes de peças mais antigas. Não é o que eu planejava, não vai nos dar nem ao menos um terço do preço que eu iria conseguir por ela. Mas já é alguma coisa. – Coçava a cabeça e analisava novamente as partes daquela perna por cima de seu balcão.

- Bill, com o numero de peças e de serviços que eu faço para você, como você ainda consegue morar e trabalhar numa espelunca como essa? Você é um dos mais importantes vendedores de peças robóticas daqui. É impossível que não tenha dinheiro suficiente para sair desse lugar com todas as peças que eu já lhe trouxe.  – Falava Zack enquanto passava seus olhos pelo lugar.

- Você não sabe de nada mesmo, seu retardado, cabeça de vento. – Respondia o velho Bill, enquanto segurava a perna em uma das mãos e a analisava mais de perto. – O covil dos ratos protege esse lugar das forças policiais da parte superior da cidade. Tudo que esses malditos gostariam de fazer era explodir toda a parte inferior, onde moramos, e se livrar dessa escoria. Eles só não fazem isso por que arrecadamos capital e pagamos os impostos pelo sindicato dos ratos. –

- Eu podia acabar com esse sindicato, se você quisesse. Não é do meu feitio, mas posso fazer uma exceção para um velho amigo.  – Zack coçava a barba com seus dedos sujos e suas unhas cheias de sujeira, quase pretas como carvão.

- Garoto imbecil. O sindicato dos ratos não é um grupo de marginais como você imagina. Se parasse ao menos um dia aqui no Beco antes de sair para uma nova caça, você entenderia melhor. Eles não são uma simples gangue de rua qualquer. Eles comandam e protegem todo o Beco Das Carcaças. Se você se meter com eles, você está morto em questão de segundos. Você é habilidoso, rapaz. Eu admito. Me trouxe ótimas peças nesses dois anos de serviço. E o mais impressionante é que você não tem nenhuma modificação mecânica ou genética. Mas mesmo assim, o sindicato dos ratos fica muito acima de sua capacidade... Mas voltando ao assunto... Você não tem nenhuma melhoria corporal como a grande maioria dos caçadores. Você é mutante, garoto? – Falava Bill agora deixando de analisar a peça mecânica e analisando Drick.

- Deixe de ser ridículo. Se eu fosse mutante eu não estaria aqui nesse fundo de esgoto. Tudo que eu quero é sair daqui. Se eu tivesse algum poder mutante, eu já estaria fora desse foço de fezes a muito tempo. E falando nisso, você disse que ia me dar um serviço de primeira, Bill. Uma caça que iria nos dar uma grande bolada. Eu preciso sair daqui e você também. Você sabe que eu sou capaz de caçar qualquer alvo que você me der. Me dê um peixe grande. Eu mereço e sou capaz, você sabe muito bem disso. – Drick apontava seu dedo para a cara do velho mercador enquanto falava.  

- Ta bem, ta bem. Eu sei o que eu disse. Tenho um chip de 5 terabytes implantado no meu córtex. Eu me lembro de tudo o que eu falo. Descanse na sala dos fundos, garoto. Eu vou falar com uma de minhas fontes e arranjar um trabalho pra você. Cuide da loja e não tente comprar nenhum Kuano pelas ruas. Essa porcaria não faz bem aos seus reflexos, já lhe falei. Eu sei que você está devendo dinheiro a alguns traficantes do Beco das Carcaças. Por isso é melhor ficar longe das vistas de todos. Fique aqui enquanto eu tento arranjar um serviço para nós. – Disse Bill ao colocar um casaco que estava pendurado ao lado do balcão da recepção, dirigindo-se para a saída de sua loja.

Zack, então, pulou sobre o balcão de atendimentos, fechou a grade e ligou o sistema de segurança elétrico que cobria a grade do balcão. Ele se virou e fora em direção aos fundos da loja, onde havia um cômodo muito pequeno, mais parecendo um velho depósito de lixo tecnológico. Mas lá havia um pequeno colchonete e, mesmo que estivesse sujo e rasgado, permitiria que o caçador tivesse alguns minutos de descanso antes que Bill voltasse com um novo serviço. Mas enquanto se dirigia para até o quarto, Drick sente uma forte dor em sua cabeça, suficiente para fazê-lo fechar os olhos e apoiar seu corpo no chão com um dos joelhos, esforçando-se para não tombar ao solo com as duas mãos a cabeça. Drick pressionava suas pálpebras e rangia seus dentes, aguentando a dor por breves segundos, o que para ele mais parecia levar horas de sofrimento. Assim que a dor amenizou, lhe possibilitando abrir os olhos novamente, o rapaz levantou-se, apoiou uma das mãos na parede mais próxima e pôs a outra em seu rosto.
- Preciso de um Kuano. Merda! – Dizia o rapaz enquanto limpava o suor do rosto.

Ele então se vira para a porta de saída e vai em direção à rua. Ainda caía uma fina chuva de dejetos das camadas superiores da cidade por toda a área do Beco das Carcaças, mas isso não mais importava para Zack. Ele caminhava agora mais rapidamente em direção ao beco 509, onde encontraria seu fornecedor particular de Kuano. Kuano era a droga do momento em setores desfavorecidos da sociedade de Cyberdon. Tratava-se de uma droga inalante, onde sua toxina se ligava a todas as sinapses do sistema nervoso do corpo de seus usuários por alguns segundos. Essas toxinas, ao entrarem em contato com o sistema nervoso do usuário, lhe concedia uma sensação de extremo prazer por breves minutos, tornando-se uma sensação de leve amortecimento de todo o corpo nos próximos minutos. Por algum tempo, o usuário não sentia nenhum incomodo no corpo, pelo contrário. Ele sentia que seu corpo estava completamente saudável e, além disso, liberava uma sensação de prazer e relaxamento por cerca de 30 minutos, dependendo do nível de vício de seu usuário.

Mas todo esse prazer tinha um preço, que no inicio não apresenta muitos problemas, mas em prolongado tempo de uso pode ser muito caro para o corpo dos usuários desta droga. De forma gradativa, o sistema nervoso do usuário torna-se mais lento, pois as sinapses químicas de seus neurônios, cuja função é levar a informação do cérebro para todo o resto do sistema nervoso de forma rápida e eficaz, aos poucos perdia velocidade, deixando os reflexos do corpo do usuário com atrasos nos movimentos. Ao iniciar o uso desta substancia, demora-se um pouco para sentir seus efeitos, mas longo prazo o tempo de reação de uma pessoa a um estimulo do sistema nervoso tornava-se devagar e fraco. Muitos usuários acabaram por perder seus movimentos após duas décadas de uso, pois não conseguiam mais movimentar seus corpos e seus músculos definhavam com a falta de mobilização.

Por essas e outras questões era que os viciados em Kuano optavam por mudar seus corpos para peças biomecânicas, pois estas não apresentavam lentidão em sues movimentos. Contudo, em lugares como o Beco da Carcaça, assim como em centenas de outras regiões extremamente miseráveis no mundo de Cyberdon, a implantação de peças biomecânicas era feita ilegalmente, sem as devidas condições e principalmente sem profissional capacitado para tal operação, o que resultava em implantes mal instalados, os quais inferiam dor e desconforto para o corpo de seu proprietário. E qual seria a alternativa dessas pessoas que sofriam por dores e desconforto por má instalação de peças biomecânicas? Obviamente era utilizar-se de Kuano. Uma droga barata e eficaz, pois os medicamentos para alivio e tratamento de próteses biomecânicas estavam muito além da capacidade financeira para pessoas das castas mais pobres da sociedade. Ainda assim, com essas instalações mau realizadas, os proprietários de peças biomecânicas eram obrigados a repor suas peças de tempo em tempo, dependendo da qualidade do equipamento.

Era um ciclo de vicio e necessidade de uso, onde pessoas que usavam Kuano trocavam membros de seus corpos por peças mecânicas, para não perderem os movimentos de parte de seus corpos, e logo depois aumentavam as doses da droga para não sofrerem com as terríveis dores causadas por peças e instalações de baixa qualidade. Outras vezes, principalmente caçadores, optavam pela instalação de peças mecânicas, para assim fazer de seus corpos maquinas de caça e luta, tornando necessário que utilizassem Kuano para que assim suportassem as dores após os implantes. Dessa forma concluía-se um dos maiores problemas sociais do mundo de Cyberdon, onde as baixas castas da sociedade viviam sob vicio de uma droga que incapacitava seus corpos, eram reféns da economia ilegal de peças mecânicas e utilizavam-se da mesma droga que destruía seu sistema nervoso para suportarem os implantes robóticos. Para Zack era um pouco diferente. Ele sofria com dores de cabeça forte, mesmo não possuindo implantes mecânicos ou tendo alguma doença diagnosticada. Seu vicio se deu de modo diferente dos demais.

Zack sabia disso. Sabia dos problemas da droga e dos demais problemas sociais que lhe circundava. Mesmo sendo um mercenário caçador de recompensas, o rapaz tinha inteligência e capacidade de interpretar os problemas do mundo de Cyberdon. Prém, por algum motivo, mesmo com todo esse conhecimento, ele rumava para o beco 509 atrás de House Micheals, seu fornecedor de confiança, ou era assim que ele o imaginava. As dores de cabeça de Zack estavam mais brandas, mas mesmo assim latejavam a cada passo que ele dava. A cada toque de seu pé no piso sujo e úmido daquele lugar, ecoava em sua mente uma dor que parecia ter sido gerada ao toque da batida de um tambor. Uma após a outra. Isso lhe deixava apreensivo, descuidado, impossibilitando que Drick apresentasse a mesma vigilância e cuidado ao andar nas ruas do Beco da Carcaça como fazia em plenas condições. Seu andar era rápido e descuidado, vezes e outra esbarrando em quem passava em sua frente.

Mas mesmo com dificuldades o jovem havia chegado a seu objetivo. Entrou no beco 509 e rapidamente começou a procurar por House, correndo os olhos por todos os cantos daquela pequena ruela. Caminhando apressadamente, pois quanto mais próximo pensava estar de House, mais sua angustia aumentava, o caçador foi até o final do beco a procuro de seu fornecedor. Porém tudo que encontrou foi o beco vazio, sem sinal nenhum de qualquer traficante de Kuano, sendo conhecido ou não. Ele fechava com força seus punhos pela raiva que sentia em não encontrar seu conhecido fornecedor de droga, chutando uma carcaça de um objeto qualquer que estava na rua, o arremessando contra a parede.

- Hey, meu “brother”. Não precisa descontar sua raiva nesse pedaço de lixo. Aposto que um “Kuaninho” vai te aliviar a pressão. O que acha? Tenho uma dose de primeira. Coisa de elite, “brow”. O que me diz? É só pedir que ta na mão. – Falou uma voz aguda e rouca da entrada do beco, fazendo Zack se virar rapidamente para aquela direção. Haviam dois homens entrando no local e se dirigindo em direção de Drick. O que havia questionado Zack estava rindo, um sorriso doentio, com a aparência suja e decrépita de um viciado em Kuano de alto nível. Ao seu lado, com o rosto escondido pelas sombras de um capuz, outro rapaz, pouco mais baixo que o viciado ao seu lado, caminhava em igual velocidade do parceiro, ambos mais perto de Drick. Assim que eles estavam próximos, a cerca de 7 metros de distância, sentindo as dores aumentar de intensidade, o jovem caçador não pode mais segurar. Evitou analisar com cuidado a situação e se rendeu ao vício de Kuano.

- Mê de essa merda de uma vez. Pouco me importa se é da boa ou se é uma bosta. Passa pra cá isso daí. – Dizia ele, respondendo a oferta dos traficantes, voltando a apoiar uma das mãos na parede, enquanto a outro entrava no bolso da calça atrás de créditos para pagar a droga que estava prestes a comprar.

- 5 créditos. – Respondia o traficante antes mesmo de Zack tirar a mão do bolso.

Drick retirou a quantidade certa de crédito do bolso e esticou a mão para alcançar as notas amassadas e molhadas para o traficante. O mesmo que havia ofertado a droga é quem recolhe o dinheiro de sua mão, contando ao mesmo tempo em que desamassava as notas com suas mãos.

- Quer dizer que não tem dinheiro para pagar o que está devendo pro Zaphís, mas tem para comprar mais drogas. Né, seu caçadorzinho escroto? – Dizia o homem mais alto à sua frente, abrindo um sorriso maior e mais psicopático do que antes, enquanto colocava o dinheiro de Zack no balso de trás de sua calça. O jovem caçador, então, tenta pegar sua pistola rapidamente do coldre escondido por debaixo de seu casaco, mas é surpreendido antes de poder saca-la. Rapidamente o elemento que estava escondido por detrás do capuz retira um rifle de plasma de cano curto de seu casaco e dispara contra Zack. O rapaz é arremessado a metros até bater as costas com violência no muro do fundo do beco. Ele cai no chão completamente sem ar e com extrema dificuldade de respirar.

- Tá ativado apenas para neutralizar, seu merda. Acha que vamos te fazer o favor de acabar com essa tua vida miserável assim tão fácil. O acerto de contas vai ser feito pelo próprio Zaphír. Ele faz questão de cuidar de dívidas como a sua pessoalmente, uma vez ou outra. Sabe comé né? Ele gosta de passar o exemplo e tal. No seu caso, acho que ele só vai derramar fluido fervente de óleo de bateria pela sua garganta. Vai ser um show e tanto. – Ria alto o traficante psicopata, abrindo suas mãos e fazendo com que suas unhas crescessem até 10 centímetros de comprimento. Eram mãos biomecânicas, cujas unhas eram feitas de uma liga de metal com fio cortante na parte mais externa. Das mãos para a ponta das unhas, feixes de eletricidade iam da palma da mãos até a ponta de suas garras de metal, deixando a entender que suas garras liberariam uma forte descarga elétrica assim que tocasse o corpo de Zack.

- Fique bem quietinho aí, se não eu rasgo a tua cara como se fosse feita de banha de lóide (um animal muito parecido com o porco). Coloque a coleira nele e vamos levar esse bosta até o Zaphyr de uma vez. – Dizia o traficante dando a ordem para que seu companheiro neutralizasse Drick ao final. O outro, por sua vez, assim que ouve as ordens do colega, retira um circulo de metal, mais ou menos da circunferência de um pescoço de tamanho mediano do balso, e ao apertar um botão faz com que aquele aro de metal se abrisse como se fosse uma liga metálica maleável. Ele então caminhava até Zack, que ainda permanecia no chão, tentando levantar seu corpo daquele piso podre, fedorento e lamacento do local. Enquanto o mais alto continuava a sorris, com pausas pela respiração fora de compasso, o outro chegava próximo de Zack, até que um ruído leve rompeu o som do local.

Sem que nenhum dos três pudesse tomar consciência de sua origem, uma pequena rede feita de laser, com um tom avermelhado, foi lançada na cabeça do homem encapuzado. A rede travessou seu rosto e seu crânio sem perder velocidade, dividindo sua cabeça e diversos cubos de carne e osso, fazendo com que toda a parte superior acima de seu pescoço se desfizesse e desmoronasse até o chão, escorregando por seu tronco ao mesmo tempo que o resto de seu corpo caía completamente amolecido. Ao olhar para a entrada do Beco, Zack e o traficante que haviam restado viram um pequeno homem trocando o refil de um lançador de rede-laser, ao mesmo tempo que retirava seu capuz, mostrando os longos cabelos acizentados.

Bill olhava Zack com um severidade que o rapaz nunca vira antes, ao mesmo tempo em que apontava sua arma contra o inimigo que agora o fitava com raiva. Bill absorveu a atenção do traficante para si, fazendo com que o mesmo saísse em corrida contra o velho mercador. Bill mais uma vez disparava sua rede, mas agora contra um inimigo que a desmanchou no ar, utilizando suas garras de aço elétrico. Antes que o velho pudesse recarregar o refil de sua arma, o inimigo perfura seu estomago com as garras de metal. Uma forte corrente elétrica percorria o corpo do velho mercador, fazendo uma serie de músculos contraírem. Assim que o inimigo desativa a descarga elétrica, ele abre sua boca e todos os dentes da parte anterior de sua arcada dentária aumentam de tamanho. Ele então abocanha parte do pescoço do velho Bill, arrancando parte de sua carne, como se o corpo do velho fosse um bife pedaço de carne.

Zack, naquele momento, consegue rapidamente ignorar ambas as dores de seu corpo, tanto as dores de cabeça como as dores em seu tórax, causadas pelo disparo neutralizante de plasma que havia sofrido anteriormente. Ele se levanta com velocidade, indo na direção do inimigo que soltava o corpo de Bill, retirando suas garras de seu abdômen, deixando o corpo do velho amigo de Zack cair sem força no chão. Zack, então, retira não apenas uma, mas duas armas que estavam de coldres escondidos por debaixo de seu velho casaco. Completamente tomado pela fúria, ele descarrega suas armas contra o adversário, disparando ambas as armas em compasso sequencial, uma após a outra. A princípio o inimigo corria na direção de Zack sem demonstrar sofrer pelo impacto dos projéteis da arma do caçador em seu corpo, pois seu corpo parecia suportar bem os ferimentos. Mas assim que ele chega à metade do caminho entre ele e o caçador, seu corpo começou a frear aos poucos com os disparos em sequencia do jovem mercenário, fazendo com que ele gradualmente perdesse velocidade. Zack, por outro lado, continuava a ir em direção do inimigo, descarregando toda a munição que continha na bateria de suas pistolas. Seus projéteis eram feitos de metal incandescente, que eram superaquecidos por uma bateria interna no interior das pistolas, antes que fossem disparadas. Seus projéteis, aos poucos, iam se aquecendo cada vez mais, visto que as baterias de cada pistola demoravam alguns disparos para que chagassem a temperatura ideal para superaquecer suas munições,  perfurando cada vez mais profundamente o corpo de seu adversário.

Depois de cerca de 12 disparos, os projéteis de Zack estavam atravessando facilmente o corpo do traficante, que agora dava passos para trás pelo impacto dos projéteis de Drick. Sem mais forças em seu corpo, com inúmeros buracos em toda extenção de seus braços, tórax e cabeça, o traficante cai de joelhos ao chão, tentando manter seu corpo ereto, com suas garras descarregando eletricidade em modo de ataque. Zack então terminou de descarregar a bateria de suas pistolas, chegando a 12 disparos com cada um delas. Assim que ele às descarrega, já bem próximo do corpo do inimigo, Zack desfere um chute com toda a sua raiva na cabeça do adversário imóvel, ajoelhado em sua frente. Seu pescoço quebra facilmente, pela violenta força do chute de Zack.

O caçador sai em grande velocidade em direção de Bill, que tossia, engasgado pelo próprio sangue, caído naquele Beco. Obviamente ninguém fora até o local. Nem polícia, nem vigilantes, nem mesmo os que faziam a segurança do Beco das Carcaças. Aquele era um lugar esquecido pelas autoridades, cuja violência predominava dia a pós dias. Tiroteios, gritos e explosões eram naturais naquela região. Zack escorrega pela lama do lugar, umedecida pelos dejetos da cidade superior, deslizando até o corpo de Bill. Ele tentava em vão estancar seu sangue, mas o pobre mercador já não tinha mais salvação.

-Eu te falei para não ir em busca de Kuano, seu miserável filho da puta! – Dizia Bill com dificuldade, engasgando com o sangue que fluía de sua garganta.

- Por que você não me disse que eles iriam me atacar, seu velho imbecil?! –

- E você me ouviria? Não me faça rir garoto. – O velho Bill deu um breve sorriso e retirou com dificuldade um papel do bolso. – Toma. Consegui um serviço que iria nos tirar desse foço de merda. Mas agora acho que é só você, garoto. Faça esse trabalho dinheiro, ganhe os créditos e os gaste por nós dois. Se tiver problemas, procuro “Moa” na periferia leste do Beco das Carcaças. Ele é de confiança. Largue o Kuano, largue a vida de caçador e deixe para trás esse lugar imundo. Que se fodam todos eles. – Dizia o velho Bill, sorrindo, enquanto tussia e espirrava sangue por toda a roupa de Zack.

Não levou mais de 3 segundos para que ele morresse nos braços do jovem caçador de recompensas, que naquela hora não mais se importava com as dores em seu corpo. Ele pressionava com força e ódio as mãos que seguravam Bill, não derrubando nenhuma lágrima, e sim uma fina linha de saliva que caía de sua boca, pois Zack se encontrava em um estado de fúria.

- Sim, Bill. Eu vou aproveitar bem esse dinheiro. Por nós dois. Mas primeiro eu vou acabar com a raça daqueles que são culpados pela tua morte. – Zack apenas se levanta, ajeita suas armas em seus devidos coldres, na linha da cintura, pega a arma utilizada por Bill e vai em direção dos corpos dos dois traficantes. Dos dois corpos mortos ali no chão do local, Zack encontrou 12 doses de Kuano. Ele utiliza uma das doses, usando um inalador especial para o uso da droga, e sai do beco 509, cobrindo sua cabeça com o capuz do velho casaco, caminhando lentamente para fora do lugar, pensando sobre o serviço que Bill lhe havia entregue.

Gabriel D. Sperb
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